DEVOÇÃO - Parte 2
DO LIVRO – Depois de mais uma bateria de testes, finalmente conseguimos um diagnóstico oficial. Rick tinha oito meses. A notícia era de partir o coração. O especialista nos disse que Rick tinha uma paralisia cerebral... / Rick tinha sofrido uma lesão cerebral quando ficou sem oxigênio do cordão umbilical durante o parto... / O que tudo isso significava em relação ao futuro de Rick era devastador. Sentados, ouvindo os médicos e tentando entender o que estavam dizendo, acho que Judy e eu estávamos em estado de choque. Era a única forma de conseguirmos controlar nossas emoções e evitarmos desmoronar na frente de qualquer um... / No caminho de volta pra casa choramos muito. Mas o discernimento entre mim e Judy era que não tínhamos outra escolha senão a de criar aquele bebê, tentando dar a ele uma vida normal. (páginas 43 a 46)
MINHA REFLEXÃO – Se há um desejo que nunca ouvi falar é o de um casal planejar um filho especial. Isso não está no script natural da vida. Logo, receber uma notícia como essa não é nada fácil. Assim foi com Dick e Judy, descrito acima. Assim foi comigo e Paulinha. Assim o é com todos os casais que engrossam a lista de pais especiais.
Ao ler esse trecho do livro, não há como não voltar alguns aninhos no tempo e relembrar exatamente o nosso caso com o amado Matias. Ainda na gravidez, lá pelo 5º mês, foi levantada, após uma ultrasson de rotina, a possibilidade do pitoquinho ter “agenesia do corpo caloso” - no popular, a falta de uma membrana no cérebro que interliga os dois hemisférios. A confirmação (ou não) só se teria após o nascimento, quando seriam realizados exames diretamente nele.
O que isso poderia acarretar? Na verdade, pouco sabíamos. Mas o medo e uma profunda angústia tomou conta da gente. A sensação de ter que marcar um eletro-encefalograma, uma ressonância nuclear magnética e uma consulta com uma neuropediatra, antes mesmo do parto, não era nada desejado numa reta final de gestação.
Bom, as semanas se passaram e Matias nasceu com oito meses e meio, numa cesárea bem tranqüila, na qual ele teve apgar 10/10. Os exames foram feitos no decorrer dos três meses seguintes e apontaram, além da confirmação da agenesia de corpo caloso, a paquigiria e lisencefalia - lesões que causaram a paralisia cerebral.
De posse dos resultados, chegou o aguardado dia da análise final da neuropediatra. Dra. Sophie, uma médica muito competente, humana e sensível, tentava nos informar sobre a problemática, com todo jeito do mundo. Mas em meio a tantas questões médicas, fui bem direto ao assunto e perguntei, objetivamente, o que tudo isso iria acarretar. Lancei então a questão: “Afinal Sophie, qual a possibilidade de Matias andar, falar e desenvolver uma vida normal?”.
Com um olhar meigo, ela desenhou uma interrogação (“?”) num papel e afirmou que essa pergunta não havia como responder. E foi falando da neuroplasticidade, das potencialidades de Matias, etc, etc.
De imediato, um choro intenso tomou conta de Paulinha...
Também de imediato, o espírito santo sussurrou três coisas ao meu ouvido, em segundos: “Fique em paz, isso faz parte do testemunho... Fique tranqüilo, ele vai andar... Assim como fiz no seu casamento, farei com Matias...”.
Ao sair do consultório eu olhei pra Paula nos olhos, disse que ia dar tudo certo e contei-lhe o sussurro de Deus. Ela me perguntou se eu não estava querendo dizer isso para consolá-la. Rebati enfatizando que não poderia ser irresponsável a ponto de prometer algo que, humanamente, não tinha condições de crer. E que não poderia me basear nas minhas certezas, mas na convicção forte que o Senhor tinha derramado em meu coração, num momento tão crucial para gente e Matias até então.
O que me deixou impressionado foi Deus ter falado do meu casamento em meio a essa história. Isso porque costumo dizer que a maior prova de fé que já tive foi a de eu ter casado com Paula sem condições financeiras alguma, simplesmente crendo na direção de Deus para seguir em frente e acreditar em Seus planos pra gente. Lembro sempre que quando estou fraco na fé, como se diz popularmente, costumo olhar pra trás e ver o milagre que foi Deus abrir tamanha “porta” para eu casar com Paula.
CONCLUSÃO – Notícias como a que recebemos (eu, Paulinha e todos os pais especiais do mundo) são um verdadeiro banho de água fria. O porquê ou o pra que de tudo isso é inevitável não se questionar. O “luto” e toda a dor que vem em seguida, juntamente com lágrimas e mais lágrimas ao longo de meses faz parte do “pacote”. A difícil busca por romper a barreira da “aceitação” é inerente, acredito, a todos. Tão inerente quanto o confrontar-se final sobre “o que fazer agora a partir de então?”
Na história de Dicky e Judy, pais de Rick, eles sofreram sim. Mas decidiram o rumo a seguir. Lógico que não foi nada fácil, uma vez que parágrafos do livro contam que pessoas diziam a eles que Rick era uma “causa perdida e que não valeria a pena desperdiçar tempo com ele”. Ou que “especialistas haviam chamado Rick de vegetal”. Ou ainda que “sugeriram a eles que devessem esquecer que Rick havia nascido”.
A atitude do casal pra essa questão? “Vamos criar e amar Rick como faríamos com qualquer criança normal”, relataram os pais, no livro. Judy pediu demissão do trabalho e tornou-se mãe em tempo integral. O casal decidiu também que precisavam procurar aconselhamento com o pastor da congregação deles, bem como se encontrar com famílias com crianças especiais. E, acima de tudo, entraram de cabeça nos tratamentos com Rick. O resto dessa inspiradora história falaremos mais na frente...
Com Matias, eu e Paulinha não seremos diferentes de Dicky e Judy. Batalharemos com todas as nossas forças (e sobretudo com as que vêm do Alto) pela felicidade plena do nosso pitoquinho. O que estiver ao nosso alcance – empenho, amor, dedicação, cuidado, tratamento e oração – faremos. O que estiver ao alcance de Deus, esperaremos.
O fato é que, decorridos 2 anos e 3 meses de vida de Matias, a “dor da notícia” já não machuca tanto. As incertezas quanto ao futuro ainda estão completamente em aberto. Isso angustia? Sim, às vezes mais, outrora menos. Faz parte da caminhada. Mas o futuro tá lá na frente. Deus nos ensina a viver um dia de cada vez. E assim vamos caminhando juntos, agora sempre atrás de boas notícias... (Marcelo)
“Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês, diz o Senhor, planos de paz e não de mal, planos para lhe dar uma esperança e um futuro”. Jeremias 29:11
Muito legal seu texto Brother!! Tava precisando ouvir as coisas que você escreveu! Continuem com o blog! É uma benção para todos nós!
ResponderExcluirOlá Marcelo e Paula!!! Fico lisonjeada pela visita de vocês no nosso blog. (Ayan, presente de Deus). Muito obrigada pelo seu comentário. Como não se emocionar com o blog do pequeno Matias!?!?! Criei o blog com intuito de conhecer pessoas que compreendessem toda a luta que passamos, as conquistas, as angustias, as noticias negativas... Mas principalmente para sentir q ñ estou só... Q possui tntas pessoas vivendo no "mundo da paralisia". Sei que nada disso é em vão... Deus tem planos em nossas vidas, por isso nos deu esses lindos presentes!!! rsrsrs. E tbm para fazer amizades verdadeiras mesmo que seja virtual. Vou acompanhar o Blog do Matias, é mais um que vai p as minhas orações!!! Boa noite à todos.
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