MATIAS LARANJEIRA CARTAXO nasceu no Recife (PE), em 7 de dezembro de 2009, e Deus lhe reservou uma forma diferente de começar a vida. Com uma paralisia cerebral, lisencefalia e agenesia de corpo caloso diagnósticadas - fato que acarreta atraso motor e não lhe dá prognóstico clínico de suas possibilidades de andar, falar e de como se desenvolverá sua inteligência - Matias tem tido uma vida bastante agitada e abençoada. Sua rotina semanal inclui sessões de fisioterapia, terapia ocupacional, natação e fonoaudiologia, além de muitos exercícios e estímulos em casa. Mas o pequeno Matias vem surpreendendo a todos com sua personalidade tranquila e alegre, bem como o seu jeito curioso e meigo de ser! Acompanhe um pouco mais da sua linda trajetória de vida e as reflexões de mamãe e papai nesse blog especial !

terça-feira, 13 de março de 2012

Aaaahhhhh esses olhares...

DEVOÇÃO - Parte 1

DO LIVRO - Quando Rick era mais novo, juntávamos a família toda para caminhar. Eu (o pai – Dicky) ia na frente, com Rick agarrado ao meu pescoço da mesma forma que os bombeiros fazem. Às vezes as pessoas não sabiam o que fazer conosco. Jamais vou me esquecer uma vez que estávamos subindo o Monte Monadnock, em New Hampshire. Rick e eu íamos à frente e começamos a subir a montanha, com minha esposa e meus outros dois filhos logo atrás. Outra família, que vinha na direção oposta, passou por mim e Rick, deram uma encarada em Rick e continuaram descendo. Quando passaram pela minha esposa, avisaram: “Tem um cara levando seu filho morto lá para o topo da montanha. Estamos achando que vai sacrificá-lo”. Judy (minha esposa) achou bem engraçado. (Página 55)

MINHA REFLEXÃO – Começarei uma série de reflexões sobre trechos desse maravilhoso livro com esse tema que, realmente, mexe um pouco conosco, pais “especiais”: os olhares. Algo corriqueiro no nosso cotidiano, vindo de pessoas das mais diversas classes que, em dias mais sensíveis, faz a gente lhe dar com o “julgamento” alheio.  

Até bem pouco tempo, ficar com Matias no nosso colo era sinônimo de “certa segurança social”. Como, em seu caso, a paralisia não trouxe síndrome associada, visualmente não há como saber se há algo diferente nele. Mas eu e Paulinha sempre tentamos nos preparar para o fato de que essa “cômoda” situação passaria a partir do crescimento de Matias. Fato hoje, aos 2 anos e 3 meses do Pitoco, constatado.

No último sábado de janeiro fui cedinho ao mercado comprar queijo, com Matias em meus braços. Na hora de pagar a conta, não conseguia pegar o dinheiro no fundo do bolso da bermuda. Coloquei a mão de um lado e de outro, Matias de um lado e de outro, até pegar a grana. Nesse ínterim, observei os olhares das três caixas pra mim como se pensassem: “porque esse rapaz não coloca a criança em pé e pega o dinheiro?”.
       
Dias se passaram e Matias fez sua estréia na escola. Não preciso nem dizer que os olhares de mães, pais e funcionários, em parte, se voltaram pra ele. Isso porque ele foi a única criança da salinha que chegou de carrinho e ainda vestido com suas abençoadas órteses, nos braços e pernas, bem ao estilo Robocop.

Aaaahhh esses olhares... Só Deus sabe o que se passa na cabeça das pessoas (pena, carinho, admiração, desconforto, rejeição)... O que quer que seja: Normal. Já estivemos do “outro lado”. Mas o lance é que, afinal, porque isso, às vezes, nos incomoda? Porque nos sentimos “menores” ou “amedrontados” com a exposição de um filho especial, no dia-a-dia, à sociedade?

Penso que é por causa dessa loucura de filhos “perfeitos”, que fazem tudinho no chamado “tempo certo”. Isso faz com que fiquemos mais vulneráveis em virtude das limitações que a paralisia impõe, hoje, ao nosso biscoitinho. Ai tu imagina o trecho do livro que ilustra essa reflexão, quando o pessoal que viu Rick na montanha achou que ele estava morto! Aja criatividade do povo... e segurança dos pais.

  
CONCLUSÃO – Por Deus, sei que fomos programados para ser pais especiais, pais do pequeno Matias. Mas a parada é que não nascemos sabendo como lhe dar com todas as situações, como os olhares. Isso faz parte do aprendizado.

Pelo imenso amor e orgulho que tenho por Matias, opto, hoje, por simplesmente retribuir olhares das pessoas com sorrisos. Sorrisos de um pai que é louco pelo seu filho e que tem uma longa história de vida a ser construída, a base de amor, fé, esperança e muita ralação fisioterapêutica.

O que seria de Rick se seu pai (Dicky) vivesse em função dos olhares e pensamentos de uma sociedade americana que, nos anos 70, ainda não sabia conviver com as diferenças de pessoas especiais? Certamente faria como os demais pais da época: Deixaria o filho especial trancafiado em casa, pela “vergonha” de expô-lo ao mundo, como se isso fosse um “defeito” da família.

Portanto, aos olhares desconfiados, retribuo com meu carinho. Aos olhares de curiosidade, minha compreensão. Aos olhares desconfortáveis, minha simpatia. Aos olhares penosos, minha misericórdia. Aos olhares singelos, minha admiração. Aos olhares de ternura, minha gratidão. Aos olhares de Deus, minha devoção. (Marcelo)            

Um comentário:

  1. Queridos Marcelo e Paula,

    queria inicialmente agradecer a série de posts que como este me emocionaram e sei que os que virão tbe vão me emocionar...já encomendei o livro...fiquei muito interessada e feliz com a indicação, mais uma vez OBRIGADA!

    Os olhares são mesmo algo que incomodam e hoje - deste lado do problema - quando olho para uma criança especial só consigo ver força e garra, assim meus olhares são sempre de afeto e admiração. Acredito ser muito difícil para as demais pessoas, que não convivem de maneira próxima com crianças especiais, entender como estas crianças chegaram onde estão, daí os olhares de piedade, não só para eles, mas tbe para nós...

    Deus há de permitir que, se não todas, mas a maioria das pessoas, reconheça nas crianças especiais, como as nossas, crianças guerreiras e cheias de força que devem ser admiradas e acolhidas como as demais...afinal são apenas crianças...

    ResponderExcluir